FotoArt: GMK Imagens Division

Era uma tarde comum no interior do Rio de Janeiro, quando ela decidiu buscar os filhos do marido em São Gonçalo. A rotina era conhecida: um trajeto de trem que ela fazia desde criança, sem erros. Partindo de sua pequena cidade, fazia baldeação na cidade vizinha e seguia rumo ao centro. A volta era o caminho inverso, tão familiar quanto o cheiro dos trilhos envelhecidos.

Nesse dia, tudo parecia igual. Com o filho e as crianças ao lado, embarcou no trem que deveria levá-los de volta para casa. Mas logo ao entrar, algo estava diferente. As janelas estavam quebradas, as portas abertas, e um silêncio incômodo tomava conta do vagão. As pessoas pareciam estranhas – rostos pálidos, olhares vazios, como se pertencessem a um tempo ou lugar distante. Alguns vagões estavam mergulhados em completa escuridão, e o ar era tão denso que parecia dificultar a respiração.

O trem, que geralmente estava cheio de conhecidos, seguia vazio de familiaridade e lotado de inquietação. Ela tentou se acalmar, pensando que era apenas cansaço ou coincidência. Mas conforme o trem avançava, percebeu algo que a fez gelar: estava demorando muito para chegar à sua cidade.

Seus instintos começaram a gritar. Com firmeza, avisou às crianças:
– Esse trem está indo para o lugar errado. Vamos descer na próxima estação.

Quando o trem parou, desembarcaram em uma plataforma escura, silenciosa, como se estivesse esquecida pelo tempo. Não havia luz, pessoas, ou qualquer indício de vida. Apenas a escuridão e o som distante do vento. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas antes que o medo pudesse dominá-la, um novo trem apareceu. Dessa vez, o nome de sua cidade estava claramente escrito na lateral.

Sem hesitar, embarcaram. E finalmente chegaram à cidade, aliviados, mas com uma sensação de que algo inexplicável havia acontecido.

Foi só anos depois, ao descobrir histórias sobre o misterioso Sete Além, que tudo fez sentido. O trem vazio, as figuras estranhas, o destino incerto… Ela havia experimentado algo além do que este mundo podia explicar.

E até hoje, ao contar essa história, muitos duvidam. Mas ela sabe o que viu. O que viveu. E aquele trem… nunca foi apenas um trem.