O relógio marcava 22h30 quando a rodovia Waldir Canevari (SP-355/330), entre Nuporanga e São José da Bela Vista, tornou-se o cenário de uma das tragédias mais brutais dos últimos tempos. Um ônibus repleto de estudantes universitários colidiu violentamente contra uma carreta, transformando a estrada em um campo de destruição. O impacto foi devastador: gritos cortando a noite, metal retorcido, corpos espalhados. No fim, 12 mortos e 11 feridos. O asfalto se tingiu de vermelho, tornando-se um altar de dor e sofrimento.
A Viagem Interrompida
O ônibus, um Marcopolo Paradiso G7, transportava 29 passageiros, a maioria estudantes da Universidade de Franca (Unifran), todos retornando para São Joaquim da Barra após um longo dia de aulas. No volante, Ademir Souza, 57 anos, um motorista experiente, que jamais imaginaria que aquela viagem terminaria em tragédia.
A noite estava quente, abafada. O asfalto refletia os faróis como se estivesse molhado, apesar da ausência de chuva. O trajeto alternativo era uma escolha forçada devido às obras na rodovia Fábio Talarico. A estrada sinuosa, mal iluminada, cortava a escuridão como uma lâmina traiçoeira.
O Impacto Mortal
Testemunhas afirmaram que a carreta Volvo FH 540 surgiu de repente na contramão. Seu condutor, Júlio César Nascimento, 48 anos, transportava uma carga de açúcar e, segundo investigações preliminares, havia dirigido por horas sem descanso. O cansaço pode ter sido seu pior inimigo.
O choque foi brutal, ecoando como um trovão. O lado esquerdo do ônibus foi rasgado como papel. Passageiros foram arremessados para fora, outros ficaram presos nos destroços. O cheiro de combustível misturava-se ao odor metálico do sangue que escorria pelo asfalto.
Gritos e Desespero
Os primeiros socorristas descreveram uma cena aterradora. Sobreviventes tentavam se arrastar para fora da carcaça retorcida do ônibus, enquanto gemidos de dor perfuravam a escuridão. Entre os feridos, Mariana Lima, 22 anos, ficou presa nas ferragens. Seus olhos arregalados refletiam o pânico. “Por favor, me ajuda…”, suplicou antes de seu corpo sucumbir ao esmagamento.
Pedro Henrique, 24 anos, caminhava em choque pelo local, seu rosto coberto de sangue. “Eles estavam vivos… estavam gritando…”, repetia, tentando, em vão, ligar para sua mãe.
A Fuga do Condutor
Enquanto os bombeiros e paramédicos lutavam para salvar vidas, Júlio César, ferido, abandonou a cena do acidente. Horas depois, foi encontrado em um canavial, delirante de dor e medo. Detido, foi levado sob escolta para a Santa Casa de Franca. A suspeita de embriaguez pairava sobre ele, mas ainda não havia confirmação oficial.
Noite de Luto
As equipes de resgate trabalharam até as primeiras horas da manhã para remover corpos e atender os feridos. Onze sobreviventes foram levados às pressas para hospitais da região, alguns em estado crítico.
Nas cidades vizinhas, o luto tomou conta. Na Universidade de Franca, velas foram acesas em memória dos jovens perdidos. Em São Joaquim da Barra, o choro dos familiares ecoava pelas ruas. “Meu filho saiu para estudar e voltou dentro de um caixão”, soluçava um pai inconsolável.
A Busca por Respostas
Agora, as investigações buscam esclarecer as causas do acidente. Falha mecânica? Erro humano? Excesso de velocidade? Júlio César será indiciado por homicídio culposo e omissão de socorro, mas nada trará de volta aqueles que perderam suas vidas.
A noite de 20 de fevereiro de 2025 jamais será esquecida. O asfalto, manchado pela memória do horror, guardará para sempre os ecos dos gritos que foram silenciados pelo impacto fatal.
E para aqueles que sobreviveram, o peso da tragédia será eterno. A estrada nunca mais será a mesma. E tampouco eles.