Reprodução internet

Daniel e Daisy formavam um casal tranquilo e trabalhador. Juntos, tinham três filhos: Denise, de 10 anos; Denilson, de 8; e a pequena Diana, de 5. Eram conhecidos entre amigos como “a família da letra D”.

Moravam em um apartamento de dois quartos e levavam uma vida confortável, mas modesta. Sonhavam, no entanto, com uma casa maior, com quintal e espaço para as crianças brincarem.
Um dia, o sonho pareceu se realizar: apareceu uma casa antiga, reformada e bem localizada, disponível para alugar. O preço era justo, e o espaço, encantador. Decidiram mudar-se sem pensar duas vezes.

A casa ficava em uma rua arborizada, com um amplo pátio e um velho poço ao fundo — tampado havia muito tempo. A sala era espaçosa, o corredor comprido, e tudo tinha o cheiro de coisa antiga recém-pintada.
O entusiasmo pela novidade fez com que ignorassem qualquer sensação estranha. A mudança foi feita em um só dia.

Naquela noite, tudo parecia tranquilo. A luz e a água já estavam restabelecidas, mas a internet ainda não funcionava. Os celulares das crianças estavam sem sinal e, sem nada para assistir, Daisy sugeriu uma brincadeira para passar o tempo: esconde-esconde.

As regras eram simples: quem contava ficava no sofá, em frente ao corredor. Quem fosse encontrado se juntava ali, até que restasse apenas o vencedor — aquele que batesse palmas, anunciando sua vitória.

Daisy começou a contar.
Um, dois, três… as crianças correram pelo corredor, rindo e tropeçando nos móveis.
Dez! — gritou ela — “Lá vou eu!”

Aos poucos, foi encontrando cada um: Denise atrás da cortina, Denilson debaixo da mesa, Diana encolhida dentro do armário.
Todos estavam ali, no sofá, sorrindo.

Então, palmas.
Vindas do fundo do corredor. Do banheiro.

O riso cessou. Daisy empalideceu.

Quem está aí? — perguntou, com a voz trêmula.
Palmas.
Mais uma vez.

As crianças choraram e se agarraram à mãe. Daisy, tomada pelo medo, ainda teve coragem de gritar:
Vá embora!

Um estrondo ecoou. A porta do banheiro bateu com força, soando por toda a casa.
Depois, silêncio.

Ninguém dormiu naquela noite. Reunidos no quarto do casal, esperaram o amanhecer, com o coração disparado e as luzes acesas.

Quando Daniel chegou do trabalho, encontrou todos apavorados. Daisy contou o ocorrido, e ele, cético, foi até o banheiro.
Abriu a porta — nada.
Nenhum sinal.

Mas o medo era maior que a razão. Decidiram voltar imediatamente para o antigo apartamento. Só esperaram o entardecer para recolher as coisas e ir embora.

Enquanto arrumavam os pertences, Daisy foi ao portão e viu duas senhoras idosas passando na calçada. Cumprimentou-as e, tentando soar casual, perguntou:
As senhoras sabem quem morava aqui antes?

Uma delas respondeu:
Faz muito tempo que essa casa está vazia.

A outra completou:
Antes, morava um casal com um menininho, de uns sete anos. Ele caiu no poço do fundo do pátio e morreu afogado. Depois disso, os pais foram embora e nunca mais ninguém quis ficar aqui.

O sangue de Daisy gelou.
Naquela noite, ao deixarem a casa, ela olhou pela última vez para o fundo do quintal — o poço tampado, imóvel, silencioso.
Parecia observar.

Os anos passaram. A família cresceu, mudou de cidade, mas o episódio nunca foi esquecido.
Em todas as orações de 12 de outubro, Dia das Crianças, Denise, Denilson e Diana lembram-se daquela noite — e pedem a Deus que ampare a quarta criança, o menininho solitário que só queria brincar também.