Marlon aguardava ansiosamente pelas férias de fim de ano, que passaria no sítio dos avós, no interior. O lugar era enorme, repleto de espaços para brincar e explorar. Mas havia uma regra clara: ele estava proibido de entrar no velho celeiro. Toda vez que perguntava sobre o motivo, seus avós desconversavam. “É perigoso, só isso que você precisa saber”, dizia a avó.
Num sábado de manhã, seus primos chegaram para passar o fim de semana. Logo, todos estavam correndo pela propriedade, brincando de pega-pega. Enquanto se divertiam, a avó reforçou o aviso: “Não entrem no celeiro, crianças!”. Eles acenaram com a cabeça, mas ninguém realmente queria saber o que havia de tão assustador lá dentro. Ninguém, exceto Marlon.
Mais tarde, ao entardecer, eles decidiram brincar de esconde-esconde. A luz do sol se esvaía, e o sítio ganhava tons alaranjados. Marlon não conseguia tirar o celeiro da cabeça. Ele tinha certeza de que era o esconderijo perfeito. Ignorando o aviso da avó, ele correu silenciosamente até o celeiro e deslizou para dentro, encostando a porta sem trancar.
O interior era escuro e cheirava a madeira antiga e poeira. Marlon prendeu a respiração. Ninguém o encontraria ali. Estava quase rindo da própria esperteza quando uma voz suave, quase um sussurro, quebrou o silêncio:
— Quer brincar comigo?
Seu coração saltou. Ele se virou e viu um menino pálido, de olhos negros e profundos. Parecia ter a mesma idade que ele, mas algo estava errado. O ar ao seu redor era frio, e o brilho do entardecer não alcançava o rosto da criança. Marlon correu até a porta e tentou abrir, mas a trava não se movia. Ele puxava e empurrava com desespero, enquanto sentia o olhar do menino sobre ele.
Finalmente, a trava cedeu. Marlon escapou e correu sem olhar para trás. Seus primos o encontraram fora de fôlego, com o rosto branco como cera.
— O que aconteceu? — perguntaram.
Ele tentou explicar, mas ninguém acreditou. Riram, achando que ele estava apenas inventando histórias para assustá-los.
Mais tarde, naquela noite, a avó o chamou para conversar em particular. Sentada na beira da cama, ela olhou para ele com expressão séria.
— Eu avisei para não entrar no celeiro, Marlon. — Ela suspirou. — Há muitos anos, um menino brincava sozinho lá dentro. Ele subiu em uma das vigas para se balançar. A madeira quebrou, e ele caiu. Quebrou o pescoço na queda… Desde então, dizem que sua alma permanece no celeiro, esperando por alguém para brincar.
Marlon engoliu em seco. Nunca mais voltou a passar perto do celeiro.