Era 2012, em uma escola de São José dos Pinhais-PR. Rafaela estava no 6º ano e, como qualquer estudante dessa idade, vivia momentos de curiosidade e aventuras. Foi em um desses dias comuns que algo inexplicável aconteceu.
A ideia surgiu sem aviso. Alguém mencionou a brincadeira do compasso, aquela que envolve perguntas e respostas movidas por uma misteriosa força. Logo, o burburinho se espalhou. Conseguimos um compasso e, em pouco tempo, um grupo de alunos estava reunido para participar.
A atmosfera era de empolgação misturada com medo. Quando chegou minha vez de perguntar se eu podia entrar no jogo, o compasso girou lentamente até o “sim”. O arrepio que percorreu minha espinha foi real, mas continuei. O jogo seguiu, entre risos nervosos e suspiros de alívio. Porém, quando alguns decidiram parar e pediram para sair, nem todos conseguiram. Eu estava entre aqueles que não obtiveram permissão.
Dias depois, a aura de estranheza ainda pairava. Rafaela e mais três amigas – uma delas chamada Gabriele, com quem estudava por um tempo – vivenciou o que marcou a brincadeira para sempre. Durante uma aula de educação física, a sala de aula estava trancada. Precisávamos guardar uma blusa de frio, e a janela foi a solução. Ao espiar lá dentro, duas delas viram algo que as fez gritar meu nome.
Rafaela correu para ver o que causava tanto espanto. A cena diante dos meus olhos permanece gravada na minha memória até hoje. Na televisão desligada, uma mão esquelética e pálida mexia os dedos vagarosamente, como se dançasse em um ritmo assombrado. Recuei de imediato, sentindo meu coração disparar.
Mais tarde, algumas meninas sugeriram que terminássemos o jogo para desfazer qualquer ligação que pudesse ter sido criada. Entretanto, por algum motivo, não consegui participar do encerramento. Lembro de uma moça mais velha comentando que quem faz essas brincadeiras arrisca ter os pés puxados pelo diabo enquanto dorme. Aquilo me assombrou ainda mais.
Nos dias seguintes, o medo tomou conta de mim. Ficar sozinha em casa se tornou insuportável. Passei uma tarde inteira sentada no portão, aguardando ansiosamente a chegada dos meus pais. Só quando vi suas silhuetas se aproximando, me permiti voltar para dentro de casa.
Até hoje, me pergunto se tudo isso foi um delírio coletivo ou fruto da nossa imaginação. Entretanto, o que me conforta é saber que não fui a única a presenciar aquilo. Contei essa história para meus pais na época, e eles ainda se lembram do meu relato.
Resta a curiosidade de reencontrar as meninas que vivenciaram esse episódio comigo, em busca de respostas ou, talvez, de um pouco mais de paz para a mente.