Alguns anos atrás, eu e meu marido estávamos fuçando um fórum qualquer — daqueles que se alimentam de boatos e arrepios — quando topamos um tópico sobre as coisas mais perturbadoras da deep web. Entre as histórias, havia uma que pegou nossa atenção: um jogo chamado Sad Satan, atribuído a um tal usuário conhecido como “ZK”. O tópico dizia que quem jogasse teria experiências estranhas depois. Eu, cética e curiosa, desafiei meu marido: “Vamos ver se é real.” Ele aceitou.
Naquele dia não encontramos o jogo em si; só um vídeo de alguém jogando. À primeira vista não havia nada monstruoso: um personagem caminhando por corredores mal iluminados, passos ecoando, nada além de silêncio e sombra. Aos poucos apareceram flashes, e um áudio estranho — parecia tocado ao contrário, ou distorcido de algum jeito que fazia a pele arrepiar. Assisti até cansar e, já tarde, fomos dormir sem imaginar nada mais.
Mas a noite trouxe algo que nenhum de nós poderia ter previsto. Acordamos ao mesmo tempo, aterrorizados, com a sensação de que algo havia invadido o quarto — ou talvez outra coisa tivesse puxado nós para fora do mundo onde tudo fazia sentido. Primeiro senti mãos invisíveis apertando meu pescoço. Depois veio um rosnado, tão feroz que não sei comparar: não era um cachorro, nem voz humana; era um som que parecia nascer de dentro de algo que mastigava a própria escuridão.
O calor se aproximava dos meus ouvidos, e o som daquela boca imensa crescendo, engolindo o silêncio. O medo me consumia como se fosse líquido quente: não havia tempo, só um esmagamento contínuo. Gritei — ou tentei — mas parecia que a própria vontade era sugada. Quando consegui abrir os olhos, estava de pé, ofegante; meu marido também. Estávamos de mãos dadas, as mesmas marcas de pânico nos olhos um do outro. Não tinha explicação: as memórias encaixavam como se tivéssemos vivido a mesma coisa.
Minha garganta doía como se tivesse sido apertada de verdade; ele também dizia sentir pressão, calor, o mesmo rosnado — a mesma hora que não tinha hora. Ficamos com pavor de fechar os olhos de novo. Choramos, oramos, pedimos proteção. Prometi para mim mesma ali que nunca mais cruzaria aquela linha de curiosidade.
Hoje, às vezes, ainda sinto algo à espreita — uma sombra de som invertido no limite dos meus sonhos. Não sei se foi sugestão, coincidência, ou algo que realmente veio daquele vídeo que assistimos. Só sei que aquilo nos mudou.