Dizem os mais antigos que jamais se deve dormir com os pés virados para a porta do quarto. Segundo a crença popular, é assim que os mortos eram velados antigamente, estendidos com os pés apontando para a saída, prontos para partir deste mundo. Dormir dessa maneira, contam, é um convite para que algo do além venha te buscar.
Minha avó sempre repetia esse aviso com voz firme e olhos desconfiados:
“Menino, não durma com os pés virados pra porta, isso atrai coisa ruim!”
Mas eu, jovem curioso e corajoso, resolvi desafiar a superstição. Esperei todos em casa dormirem, acendi uma vela, me deitei com os pés apontados diretamente para a porta e fiquei ali, de olhos arregalados, esperando alguma coisa acontecer.
Nada.
Nem um barulhinho.
Adormeci com a certeza de que era tudo história de velho.
No dia seguinte, zombeteiro, contei à minha avó o que fiz. Ela não achou graça. Com os olhos sérios e a voz pesada, apenas disse:
“Você não devia brincar com essas coisas. Isso é sério.”
Mas eu ri.
Ri porque não acreditava.
Até a noite seguinte.
Sem me dar conta, me deitei de novo com os pés virados para a porta, distraído pelo celular, já nem lembrava mais da lenda. Por volta das três da manhã, acordei com uma luz estranha no quarto — uma luz que não vinha de lugar nenhum. Levantei a cabeça devagar… e vi.
No vão da porta, havia uma criatura.
Enorme.
Escura como a noite sem lua.
Olhos brilhantes como brasas acesas.
E um sorriso… um sorriso que não era deste mundo.
Paralisado de medo, sem conseguir mexer um músculo ou sequer gritar, vi quando ela se aproximou lentamente. Seus olhos perfuraram os meus, e com voz rouca e gelada, ela sussurrou:
“Está pronto? Sua hora chegou.”
Ela agarrou minha perna com mãos frias e ásperas, e nesse instante me mijei todo, o pavor era tanto que só conseguia tremer. Seus dentes eram afiados e vermelhos, como se banhados em sangue, e seu sorriso… diabólico.
A criatura me puxou da cama e me jogou no chão com força. O barulho acordou minha avó, que correu ao meu quarto e acendeu a luz. Quando a luz brilhou, a criatura sumiu — como se fosse feita de fumaça.
Eu estava lá, no chão, molhado e em choque, chorando como uma criança. Ninguém acreditou no que contei. Ninguém… exceto minha avó. Ela me olhou nos olhos e disse, sem um pingo de surpresa:
“Eu te avisei. Não se brinca com essas coisas.”
Desde então, nunca mais dormi com os pés virados para a porta.