Na plataforma petrolífera Byford Dolphin, quatro homens desceram ao abismo dentro de um sino metálico, como navegadores modernos sondando o reino esquecido das profundezas. Dois britânicos e dois noruegueses — homens experientes, acostumados ao silêncio esmagador do fundo do mar.
Mas o que não sabiam era que, sob aquelas águas, jaziam ruínas invisíveis aos olhos humanos — vestígios de um templo afundado dedicado a Ægir, o antigo deus nórdico do mar. A lenda conta que, quando os humanos violam os domínios de Ægir sem oferendas, o mar exige sangue.
Tudo parecia correr normalmente. Eles estavam prontos para retornar, e dois dos mergulhadores já haviam entrado na câmara de descompressão, onde os outros dois repousavam. Mas naquele dia, o destino se fez servo do mar.
Um operador, tomado por algo que ele mesmo não saberia descrever — uma espécie de torpor ou encantamento — abriu a escotilha externa do sino antes da hora. A escotilha interna ainda estava aberta. E então, o silêncio foi rasgado.
A pressão interna explodiu como o grito de um deus traído. O ar e os fluidos corporais se expandiram de maneira violenta e antinatural, como se os corpos tivessem sido despedaçados por mãos invisíveis. Um dos mergulhadores foi encontrado com os ossos esfarelados, os olhos virados, e a pele inflada como um balão. Outro simplesmente desapareceu, como se tivesse sido sugado para outra dimensão.
Dizem que, no instante exato da explosão, as luzes da plataforma piscaram e um som como um lamento antigo ecoou pelos corredores de metal.
Desde então, marinheiros e mergulhadores que passam pela região afirmam ouvir vozes sussurrando em bolhas de ar que sobem das profundezas. Vozes em norueguês, em inglês, em línguas esquecidas. Às vezes, veem luzes se movendo no fundo do mar, como se os quatro ainda vagassem por ali, presos entre este mundo e o próximo.
Outros juram que o próprio sino de mergulho — recuperado e lacrado em um depósito — emite estalos à noite, como se algo ou alguém tentasse sair de dentro.
A plataforma foi desativada, mas a lenda permanece:
“Quem perturba os salões de Ægir, paga o preço com o corpo… e com a alma.”