Era o ano de 2002, numa pequena comunidade chamada Bambu, localizada no interior de Pindaré-Mirim, no Maranhão. Um lugar simples, conhecido por seu balneário, onde as pessoas da região costumavam se refrescar nas águas do rio e compartilhar momentos de lazer aos finais de semana. No entanto, o balneário também carregava consigo histórias sombrias, marcadas por acidentes trágicos e afogamentos que deixavam um rastro de mistério.
Meu irmão mais velho, um homem corajoso e brincalhão, sempre gostava de frequentar o rio. Certa tarde ensolarada, ele decidiu tomar um banho nas águas tranquilas do rio, como fazia de costume. Naquele mesmo dia, porém, uma descoberta macabra foi feita. O corpo de um homem, que havia se afogado horas antes, foi encontrado por pescadores locais. A cena era perturbadora: o homem estava com uma das mãos cerradas, como se segurasse algo com força.
Curiosos e assustados, os pescadores abriram cuidadosamente a mão do falecido. Para sua surpresa, lá dentro, entre os dedos rígidos e pálidos, encontraram uma cédula de dois reais. A notícia se espalhou rapidamente pela pequena vila, e não demorou para chegar aos ouvidos do meu irmão, que, com seu jeito irreverente, não resistiu à tentação. Ele pegou o dinheiro e, como de costume, foi direto ao bar local, onde tomou uma dose de cachaça, rindo da situação.
Mas a partir daquele dia, o destino pareceu mudar. Todas as noites, quando ele deitava em sua rede para dormir, algo estranho acontecia. No exato momento em que estava prestes a pegar no sono, sentia uma presença perturbadora. Era como se uma mão invisível segurasse os punhos da sua rede e começasse a balançá-la suavemente, mas o suficiente para que ele se assustasse e acordasse num sobressalto.
Ele olhava ao redor, a escuridão tomando conta do quarto, mas não via nada. Só o silêncio e o farfalhar leve da rede ainda se movimentando. No início, ele achou que fosse apenas fruto de sua imaginação, talvez resultado de um dia cansativo ou de um copo a mais de cachaça. No entanto, as noites se passaram e a sensação persistia. Sempre, naquela linha tênue entre o sono e a vigília, a mesma presença inquietante voltava, como se algo ou alguém estivesse ali.
As pessoas na vila começaram a comentar o ocorrido, dizendo que o dinheiro que ele havia pegado do homem afogado carregava uma maldição, um laço com o além que jamais deveria ter sido rompido. Outros diziam que o espírito do homem afogado não estava em paz, e que procurava algo que lhe havia sido tirado.
Até hoje, os moradores do povoado Bambu contam essa história, especialmente nas noites de lua cheia, quando o rio parece mais sombrio e as águas trazem à tona os mistérios e as tragédias de tempos passados. Alguns acreditam que a alma do homem ainda ronda o balneário, procurando por aquilo que lhe pertence, e que, de alguma forma, meu irmão carregou consigo para além deste mundo.
Essa é a lenda de Pindaré-Mirim, uma história de afogamento, um corpo com a mão fechada e uma cédula de dois reais que deixou marcas profundas, não só nas águas do rio, mas também nas lembranças e no sono de quem ousou desafiar o mistério.