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Era um dia ensolarado, mas com uma brisa estranhamente gelada, quando Mariana e Gustavo, ambos com 32 anos, decidiram fazer uma visita ao sítio da família, situado em uma região afastada e cercada por mata fechada. O local era rico em memórias e histórias, algumas alegres, outras nem tanto. Mariana sempre se sentia nostálgica ao chegar lá, mas algo naquela visita parecia diferente.

O casal levou a filha Alice, de sete anos, que nunca tinha ido ao sítio antes. A menina estava empolgada com a ideia de explorar a área, especialmente porque Mariana havia mencionado um antigo poço de pedra nos fundos, que costumava ser o centro das brincadeiras de sua infância.

Chegando lá, enquanto os pais organizavam algumas coisas na casa principal, Alice correu para explorar o quintal. A curiosidade a levou até o velho poço, cercado por uma cerca improvisada e com musgo cobrindo grande parte das pedras. Mariana sempre contava que esse poço fora fechado por segurança após um acidente com um dos moradores antigos da propriedade, mas Alice, inocente e cheia de imaginação, não resistiu a aproximar-se.

Quando Gustavo percebeu a ausência de Alice, chamou-a várias vezes, mas não obteve resposta. Mariana, preocupada, juntou-se à busca. Os dois chamavam pela menina, a voz ecoando pelos arredores silenciosos. Foi então que ouviram a voz delicada de Alice, conversando com alguém.

Seguiram o som até o poço. Lá estava a menina, sentada na borda de pedra, rindo e falando, como se dialogasse com alguém. Ao serem notados, Alice olhou para os pais com um sorriso brilhante e inocente.

“– Olá, papai, mamãe! Estou brincando com a moça do poço. Ela é tão legal! Disse que adorava brincar aqui quando era criança.”

Mariana e Gustavo trocaram olhares alarmados. Aproximaram-se de Alice e perguntaram-lhe mais sobre “a moça”.

“– Ela está aqui dentro” – disse Alice, apontando para o interior do poço. – “Mas ela disse que não pode sair. Só quer conversar e brincar.”

Um arrepio percorreu a espinha de Mariana. A história do sítio incluía a trágica morte de uma jovem prima sua, Clara, que havia caído no poço há décadas, quando tinha 10 anos. Apesar da tragédia, a família raramente falava sobre o assunto, e Alice nunca ouvira essa história.

Mariana, tentando manter a calma, pegou Alice no colo e se afastou rapidamente do poço, enquanto Gustavo olhava fixamente para a borda. Ele jurava ter visto algo, uma sombra ou um reflexo, que desapareceu quando piscou.

Naquela noite, Alice insistiu em que “a moça” queria brincar mais. Mariana e Gustavo, visivelmente desconfortáveis, decidiram que era hora de tomar providências. No dia seguinte, procuraram o padre da cidade e explicaram o ocorrido. Ele sugeriu uma bênção no poço, junto com uma missa em memória da jovem Clara.

Quando retornaram ao sítio com o padre, ele realizou a cerimônia, aspergiu água benta e rezou em voz alta. Durante o processo, Alice observava silenciosamente. Depois da bênção, a menina comentou com um tom de despedida:

“– A moça disse que está feliz agora. Ela não vai mais ficar sozinha.”

Desde então, Alice nunca mais mencionou a moça do poço. E, embora o sítio continuasse sendo um lugar especial para a família, Mariana e Gustavo sempre evitavam deixar Alice sozinha perto do velho poço. Por via das dúvidas.