Dizem que em uma cidade pequena, onde o silêncio da madrugada é tão denso que até os passos parecem gritos, há uma parada de ônibus esquecida no tempo. Fica num canto afastado da avenida principal, cercada por sombras e por um velho arbusto que nunca deixa de crescer, como se escondesse segredos demais para morrer.
Foi ali que, numa noite qualquer — ou talvez em muitas — uma jovem apareceu, sempre por volta da meia-noite. Bonita, nova, aparentando ter uns 14 anos, usava roupas curtas demais para o frio e para a solidão da hora. Não carregava bolsa, celular ou qualquer sinal de destino. Apenas sentava, cruzava as pernas, e esperava.
Mas o que exatamente ela esperava?
Os poucos que a viram garantem que sua expressão era estranhamente tensa. Como se estivesse com medo. Como se não fosse ela quem escolhesse estar ali. E atrás dela, o arbusto balançava… mesmo quando não havia vento.
A lenda diz que, volta e meia, algum homem — sempre homem — aparece por perto. Uns são bêbados. Outros, curiosos. Mas todos têm algo em comum: olhos famintos, intenções sujas e a certeza arrogante de que ela é uma presa fácil. Eles se aproximam. Sentam ao lado. Puxam conversa. Tentam tocar. E é nesse momento que as coisas mudam.
A garota não grita. Não corre. Ela apenas sorri. Um sorriso frio, como de quem já sabe o que vai acontecer.
O arbusto, então, se agita. Um laço de aço, fino como linha de costura, surge de lugar nenhum. Em segundos, o predador vira vítima, arrastado para a escuridão por mãos fortes demais para serem humanas. E a garota? Ela apenas levanta, ajeita os cabelos, e entra na vegetação densa, onde estalos e mastigações surgem logo depois.
Na manhã seguinte, cães vadios saem do mato com ossos pequenos entre os dentes — alguns ainda com carne pendurada. As autoridades já encontraram caveiras, dentes soltos, pedaços de roupa. Nunca identificaram ninguém. E nunca ousaram investigar fundo demais.
Alguns dizem que a menina foi, um dia, uma vítima real. Violentada e assassinada naquela mesma parada, décadas atrás. Outros afirmam que ela e a criatura que vive no arbusto são a mesma entidade: metade isca, metade fera. Um espírito de vingança que caça os predadores da madrugada.
O que se sabe, com certeza, é que motoristas de ônibus noturno já viram a figura dela sentada ali, sozinha. E que, pouco tempo depois, sempre alguém desaparece.
Então, se você estiver andando tarde da noite e vir uma jovem sozinha num ponto escuro, sorrindo demais…
Passe direto.
Não fale com ela.
E, pelo amor da sua vida, não sente ao seu lado.
Porque, à noite, tudo o que é fácil demais pode te devorar inteiro.