Em uma região isolada, onde o vento parecia nunca alcançar e o tempo caminhava arrastado, existia um lago cujo silêncio era pesado demais para ser natural.
Os mais velhos sussurravam histórias sobre ele, e ninguém ousava pronunciar o nome que o local havia herdado ao longo das décadas: “O Lago dos Suicidas”.
Diziam que, nas noites de lua cheia, a água não refletia as estrelas, mas os rostos daqueles que haviam se afogado ali pela própria vontade. As famílias evitavam se aproximar, os viajantes mudavam de rota, e até os animais pareciam contornar as margens sombrias.
Naquela madrugada particularmente fria, uma névoa espessa rastejava sobre a superfície escura quando uma figura encapuzada surgiu, conduzindo um pequeno barco.
O remo cortava a água parada, mas cada golpe soava como um gemido vindo de algum lugar profundo demais para ser humano.
Às margens, árvores mortas se envergavam como braços retorcidos, tentando impedir a passagem. Entre suas raízes deformadas, ossos e crânios emergiam, pálidos sob a lua — como se o lago tivesse decidido rejeitar alguns de seus mortos.
Acima, corvos circulavam em padrões desordenados, crocitando com inquietação, como se anunciassem um presságio inevitável.
A cada nova remada, vozes surgiam da névoa, algumas implorando socorro em tom trêmulo, outras sussurrando promessas de descanso eterno, doces demais para não serem enganosas.
Mas havia algo ainda mais perturbador:
todas elas pareciam reconhecer o viajante.
Como se esperassem sua chegada havia muito tempo.
Como se ele fosse, inevitavelmente, o próximo.
Quando o barco alcançou o centro do lago, a água começou a estremecer, refletindo a lua pálida como um olho febril. Rostos cadavéricos emergiram da escuridão, seus olhos ocos fixos na figura encapuzada.
— Volte… volte… ainda há tempo… — repetiam em uníssono, como um coro de condenados tentando impedir mais um destino selado.
Mas o Lago dos Suicidas não aceitava deserções.
Antes que o viajante pudesse reagir, algo invisível — frio, pesado, antigo — agarrou o barco por baixo. O casco rangeu. A figura tentou se segurar, mas em segundos foi arrastada para as profundezas, engolida por uma força que não pertencia ao mundo dos vivos.
O remo flutuou brevemente, os corvos guincharam em pânico… e então tudo foi tragado pelo silêncio.
Ao amanhecer, o lago era novamente um espelho calmo, imperturbável, como se a madrugada não tivesse passado de um devaneio.
Mas quem ousou se aproximar jura ter visto um novo rosto entre os reflexos distorcidos da superfície — o rosto de alguém que tentara atravessar… e nunca mais voltou.
E assim, ano após ano, o Lago dos Suicidas permanece ali, esperando o próximo viajante a ser chamado por suas águas famintas.



