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Para quem acredita em manifestações sombrias e ataques de espíritos malignos, aqui vai uma história que ainda hoje assombra os corredores do tempo e ecoa entre as vielas silenciosas de Guaxupé, interior de Minas Gerais. O caso ocorreu entre a madrugada de terça e a manhã de quarta-feira de cinzas, no fim do Carnaval de 1991.

Naquela época, Guaxupé fervilhava com turistas e foliões. A Sorveteria Dadirce, ponto de encontro dos jovens no coração da cidade, em frente ao coreto da praça central, estava sempre lotada. Eu, com apenas 16 anos, trabalhava ali como garçom nos fins de semana. Hoje, a sorveteria não existe mais, mas o que presenciei naquela noite permanece gravado em minha memória como uma cicatriz invisível.

Com o Carnaval, o movimento aumentava e o proprietário, Tonim, contratava garçons extras. Naquela sexta-feira, chegaram dois rapazes para reforçar a equipe. Um deles, chamarei de Carlos, para preservar sua identidade, era um jovem atlético, alto, de pele escura e rosto magro. Seu comportamento era sempre tranquilo, até a fatídica madrugada.

Na terça-feira de Carnaval, por volta das 4h30, a sorveteria encerrou o expediente. Carlos saiu com três amigos e, após algumas cervejas no bar Kuka Fresca, decidiram ir embora a pé. O grupo morava no bairro Jardim Planalto, passando o cemitério municipal.

Já amanhecendo, um dos amigos sugeriu uma aposta: quem pulasse o muro do cemitério e trouxesse uma flor de um túmulo ganharia o direito de ficar com uma garota de programa. Carlos, ousado, aceitou o desafio. Para provar sua coragem, dirigiram-se a um pequeno portão lateral, por onde se podia observar o interior do cemitério.

Carlos subiu nas costas de um amigo para alcançar o muro. No instante em que tocou a parte superior da estrutura, foi puxado com força para dentro — como se mãos invisíveis o tivessem arrastado. Foi lançado sobre os túmulos e, segundo os relatos dos amigos, passou a tremer violentamente, falando em uma língua desconhecida. Seus olhos ficaram vermelhos, e ele começou a destruir os túmulos próximos, arrancando restos humanos que consumia com voracidade.

Em um ataque de fúria bestial, Carlos pulou de volta para fora e espancou dois dos amigos até quase matá-los. Em seguida, rastejou até um terreno baldio próximo, onde devorou parte de um cachorro morto. A polícia foi chamada, mas ao chegarem, Carlos fugiu correndo e jamais foi visto novamente.


A VERDADE POR TRÁS DO CASO

Por anos, essa história me perseguiu. Como algo assim poderia ter acontecido? Seria apenas um surto psicótico, ou havia algo mais sombrio por trás?

Muito tempo depois, soube de algo que gelou meu sangue. Segundo um antigo morador da cidade, envolvido com práticas espirituais, naquela mesma noite, uma mulher havia feito um pacto com um demônio numa encruzilhada. Ela queria de volta seu marido falecido. Em troca, ofereceu seu próprio sangue numa sexta-feira 13.

O demônio, segundo relatos ocultistas, começou o ritual com terra de cemitério. E foi justamente nesse momento que Carlos pulou o muro, invadindo o território espiritual onde a entidade operava. Sentindo-se ameaçado, o espírito maligno teria possuído Carlos, usando seu corpo como veículo de destruição e medo — uma forma de ensinar que “com os mortos não se brinca”.

Desde então, evito passar perto daquele cemitério. Sempre que o faço, sinto um arrepio profundo, como se algo me observasse das sombras, pronto para me arrastar para além do véu.

Se foi verdade ou delírio coletivo, ninguém jamais saberá. Mas para quem viveu aquela época em Guaxupé, Carlos não foi apenas um jovem garçom — ele foi o protagonista de um dos episódios mais sombrios e inexplicáveis da história da cidade.