Trabalho em um hospital de pronto-socorro. O turno da noite é sempre um caos: emergências, gritos, poucos médicos e muita tensão. Mas naquela noite… naquela noite, algo fugiu do comum.
Eram exatamente 2h33 quando a ambulância chegou. Mas algo estava errado. Normalmente, as sirenes ecoam pelo pátio, os paramédicos correm, a urgência toma conta do ambiente. Mas dessa vez, não. O veículo se aproximou em completo silêncio. E os paramédicos… pareciam hesitantes. Lentamente, baixaram a maca, sem pressa, sem alarde.
Deitado nela estava um homem. Sua pele era pálida, quase cinzenta, e sua expressão era indescritível—como se tivesse testemunhado algo que sua mente não pôde processar. O peito subia e descia fracamente. Estava vivo. Mas algo nele me causava um arrepio incômodo.
— Encontramos ele na estrada — murmurou um dos paramédicos, com uma voz estranhamente tensa. — Nenhum ferimento. Nenhuma identificação. Nenhuma explicação.
Levamos o homem para a sala de observação. Fiquei por ali, monitorando seus sinais vitais. O pulso era absurdamente lento. Mas o pior foi perceber que, apesar de inconsciente, sua expressão mudava sutilmente. Era como se estivesse sofrendo… como se lutasse contra algo em seus próprios pesadelos.
Então, seus lábios se moveram.
— Não… eu… deixe-me…
Engoli seco.
— Senhor? O senhor pode me ouvir?
Nenhuma resposta.
De repente, seu corpo arqueou violentamente para trás, como se algo invisível o puxasse da cama. Seus olhos continuavam fechados, mas sua boca se abriu num grito silencioso. O monitor cardíaco disparou um alarme ensurdecedor. Corri para chamar outro médico. Mas quando voltei…
O homem não estava mais lá.
A maca estava vazia. As correias de fixação haviam sido partidas como se fossem meros fios de lã. O banheiro estava vazio. Debaixo da cama, nada. A segurança foi acionada. Vasculharam cada canto do hospital. Não havia rastro dele.
Foi então que checamos as câmeras de vigilância. E foi aí que o impossível aconteceu.
As imagens mostravam a sala de observação. Mas o paciente nunca apareceu nelas. Nem quando os paramédicos o trouxeram, nem quando o coloquei na maca. O quarto permaneceu vazio o tempo todo.
Na noite seguinte, ainda tentando processar o que aconteceu, decidi perguntar ao plantão anterior se sabiam algo sobre aquele paciente. Foi quando meu sangue gelou.
Aquele homem… havia sido declarado morto às 23h33. Três horas antes de chegar ao hospital.
Se ele estava morto… quem eu atendi naquela noite? Para onde ele foi? E a ambulância? Os paramédicos não eram funcionários do hospital, mas sim de um serviço terceirizado, com equipes sempre rotativas. Difícil encontrá-los novamente.
Sou médico. Não bebo, não uso drogas, não alucino.
Mas, então… o que foi aquilo?
Talvez eu precise conversar com um psiquiatra.