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Na pacata cidade onde o sino da Igreja ainda ecoa sobre telhados coloniais e ruas de paralelepípedo, um caso envolvendo o respeitado Padre Reich, de quase 60 anos, vem causando comoção, dúvidas e calafrios nos fiéis e moradores. O sacerdote, conhecido por sua fé inabalável e longos anos à frente de uma das mais tradicionais paróquias da região, protagonizou um episódio que muitos classificam como um contato com o inexplicável.

Na noite em questão, o padre havia acabado de se recolher quando foi abruptamente acordado por batidas aflitas na porta da casa paroquial. Ao atender, deparou-se com uma mulher de aparência humilde, vestida de preto, com um véu cobrindo os cabelos.

“É o meu marido doente que tenho em casa, padre! Está muito grave e vim implorar-lhe a última bênção!”, implorou ela.

Sem hesitar, o padre Reich vestiu-se às pressas e seguiu a mulher pelas ruelas escuras do bairro até uma velha casa aparentemente esquecida pelo tempo. No interior de um quarto pobre e abafado, um homem visivelmente desnutrido e moribundo o esperava deitado numa cama improvisada.

“– Aqui estou, meu filho”, disse o padre, sentando-se ao lado do doente. Com lágrimas nos olhos, o homem pediu confissão. Padre Reich o ouviu com paciência, palavras de consolo e, retirando sua estola sacerdotal, pendurou-a num cabide próximo antes de conceder-lhe a absolvição. Após o sacramento, o padre despediu-se do casal e retornou à paróquia, com a sensação de dever cumprido.

Mas o mistério só começou no dia seguinte.

Ao notar que havia esquecido a estola na casa, Padre Reich pediu que um paroquiano fosse buscá-la. O jovem voltou afirmando que ninguém atendeu a porta. O mesmo ocorreu com o sacristão, que também tentou, sem sucesso, recuperar o objeto.

Intrigado, o próprio padre decidiu ir até lá. Por mais que batesse, ninguém o atendeu. E mais: o local aparentava estar completamente abandonado.

Determinando-se a entender o que havia ocorrido, o sacerdote foi até um morador vizinho para obter informações sobre os ocupantes da casa. A resposta foi categórica:

“– Ninguém mora lá há muitos anos, padre. A casa está fechada desde que os antigos donos faleceram”, disse o vizinho. Diante da insistência do padre, os dois foram juntos ao local. Com uma chave antiga, o morador destrancou a porta com dificuldade. Lá dentro, encontraram o esperado: poeira, mofo, móveis antigos cobertos por lençóis e teias de aranha. Não havia sinal de vida recente.

Foi então que o clima ficou ainda mais denso: no mesmo quarto em que o padre estivera na noite anterior, pendurada no cabide da parede, estava a estola que ele jurava ter deixado ali ao atender o moribundo.

O caso se espalhou pela cidade como rastilho de pólvora. Muitos acreditam que o padre foi chamado por almas em busca de paz. Outros dizem que foi vítima de um engano espiritual. E há os céticos, que tentam encontrar explicações racionais.

O fato é que, poucos dias depois, Padre Reich deixou a cidade. Uns dizem que enlouqueceu. Outros juram que ele está em outra paróquia, mas que seus sermões, antes firmemente católicos, agora misturam pregações cristãs com frases espirituais e até menções ao além.

A estola, dizem, nunca mais foi usada. Teria sido guardada em um cofre trancado, junto com um diário que o padre deixou para trás.