Nos anos 80, em um pacato vilarejo do interior, o bar do Ataliba era o ponto de encontro dos amigos. Silas, Zé, Tonho e Pardal eram frequentadores assíduos. Jogavam truco, bilhar e tomavam cerveja até altas horas. Embora a diversão fosse garantida, havia uma regra não escrita entre os moradores: ninguém usava a trilha que cortava o bosque à noite.
A trilha era conhecida por ser um atalho, economizando meia hora do trajeto até suas casas. Durante o dia, era só um caminho rodeado de árvores, mas, à noite, transformava-se em cenário de histórias de assombração. Falavam sobre uma mulher vestida de preto, com olhos brilhantes, que perseguia aqueles que ousavam passar por ali após o cair do sol.
Em um sábado, já passando da meia-noite, os amigos decidiram ir embora do bar. Pardal, que tinha bebido além da conta e sempre gostava de desafiar as superstições, provocou os outros:
— Vocês são um bando de medrosos! Hoje eu vou provar que essa história da mulher da trilha é só conversa fiada.
Os amigos hesitaram, mas o desafio de Pardal os levou a seguir pelo atalho. No início, tudo parecia normal. O vento balançava as folhas das árvores, e o som dos grilos preenchia a noite. Mas, conforme avançavam, uma sensação de desconforto começou a tomar conta. O ar ficou pesado, e o silêncio, denso.
De repente, Pardal, antes zombeteiro, parou abruptamente e sussurrou:
— Aconteça o que acontecer, não olhem para trás.
Silas, que era o mais velho e o último da fila, sentiu algo. Era como se uma sombra fria o seguisse. Contra sua própria vontade, virou-se para olhar. Atrás deles, uma figura surgiu na escuridão. Era uma mulher alta, vestida com um manto longo e escuro. Seus olhos brilhavam como brasas no escuro, e seu rosto parecia se contorcer em expressões de dor e raiva.
— Corram! — gritou Silas.
Os quatro dispararam, tropeçando nos pedregulhos e tentando ignorar os gemidos que vinham de trás. Pardal, tomado pelo pânico, caiu várias vezes, arranhando braços e pernas nas pedras afiadas. O medo os impulsionava, e só pararam de correr quando chegaram às suas casas.
No dia seguinte, Pardal apareceu com o rosto pálido e cheio de feridas, mas sua arrogância habitual havia desaparecido. Ele jurou nunca mais usar a trilha, e os outros amigos também evitaram falar sobre o ocorrido.
Desde então, a história da Mulher da Trilha Escura ganhou força no vilarejo. Diziam que era o espírito de uma mulher que perdera a vida ali décadas antes, vítima de uma tragédia não esclarecida. E até hoje, mesmo os mais céticos evitam o atalho à noite, pois dizem que, se você olhar para trás, nunca mais será o mesmo.