Dizem que toda cidade pequena guarda seus segredos… mas nenhum tão estranho — e tão bem protegido — quanto o que existe por trás da cafeteria que fica em frente ao parque. A maioria das pessoas enxerga apenas um ponto aconchegante para tomar café, ouvir música suave e ver o movimento da praça. Mas há quem jure que, em noites mais silenciosas, algo se move rápido demais entre as árvores. Algo que não é totalmente humano.
Esta é a história que Samantha contou. Uma história que poucos acreditariam… se ao menos soubessem.
O CLIENTE MISTERIOSO
A primeira vez que Samantha o viu, ele simplesmente entrou, pediu um café e abriu um livro. Um homem de olhar profundo, daqueles que parecem atravessar a alma. Algo nele chamava atenção — algo que ela não conseguia explicar.
Robson.
O cliente que lia sozinho.
O desconhecido que deixava o ar mais denso quando seus olhos encontravam os dela.
Lola, a garçonete e irmã mais nova do rapaz (embora Samantha não soubesse disso ainda), adorava provocar:
— Vocês já são iguais… chatos, que preferem livros a festas!
Por dias, os olhares se cruzaram, silenciosos, discretos… perigosamente próximos de se tornarem algo mais.
O PRESENTE INESPERADO
Numa tarde qualquer, Lola conversou com ele do lado de fora. Samantha achou estranho… até o celular vibrar.
“Olá, sou o Robson.
Mandei algo pela sua funcionária. Espero que goste. E… também gosto de você.
Te vejo hoje à noite.”
Dentro de um pequeno coração de madeira esculpido à mão, suas iniciais: S R.
E uma pulseira delicada, guardada com cuidado.
Samantha sentiu o coração falhar. Mas não sabia que aquela noite marcaria o início de uma lenda.
O ATAQUE
Por volta das 22h, depois de todos irem embora, dois homens permaneceram. Quando o casal saiu, tudo desabou.
Lola levou uma coronhada.
Samantha foi agarrada.
E os homens deixaram claro o que pretendiam fazer.
Foi ali, entre medo e desespero, que Samantha entendeu: não tinha escolha.
Ela se transformou.
Pelo que contam — e ninguém ousa desmentir — os tiros não a feriram. Nem podiam.
O primeiro homem… seus gritos ecoaram pela cafeteria antes de serem engolidos pelo estômago rasgado e o sangue que manchou o chão.
O segundo fugiu para o parque.
Mas a criatura era mais rápida.
Muito mais rápida.
Seu corpo foi encontrado apenas em pedaços entre as árvores — ou melhor, nunca foi encontrado oficialmente.
O ENCONTRO COM A VERDADE
Quando Samantha voltou para a cafeteria, ainda coberta de sangue, algo aconteceu que mudaria tudo: Robson apareceu na porta e viu a criatura entrando.
Ela tentou segurá-lo.
E diante de seus olhos, voltou à forma humana.
O silêncio foi absoluto.
Até que Robson, assustado, só conseguiu perguntar:
— E minha irmã? Onde está minha irmã?
— Que irmã? — respondeu Samantha, confusa.
— Atrás do balcão! — disse Lola, ainda zonza.
A revelação caiu como raio: Lola e Robson eram irmãos.
E os dois tinham visto a verdade.
Mas não fugiram.
Não gritaram.
Não correram.
Eles a ajudaram a limpar o sangue.
A esconder os corpos.
A apagar qualquer rastro.
E Robson disse algo que Samantha jamais esqueceu:
— Você salvou minha irmã. Eu te amo como você é.
A LENDA NASCE
O romance floresceu.
O casamento veio meses depois.
A vida seguiu — ou quase.
Hoje, Robson é um escritor famoso.
Eles abriram duas novas cafeterias.
A família cresceu.
Mas o segredo continua.
E dizem que, quando a noite cai e o vento passa pelo parque, alguém sempre sussurra por lá:
“Lobisomens não existem…”
E Samantha, de dentro da cafeteria, apenas sorri.
Porque algumas lendas…
Nascem silenciosas.
Vivem nas sombras.
E caminham entre nós.
Principalmente quando amam.



